30 maio 2006

Stalker

Coluna de Arnaldo Bloch, n'O Globo

Filme do mestre russo Andrei Tarkovsky, o protagonista, morador de uma pequena e inóspita aldeia um dia devastada por o que se julga ter sido um meteoro, dedica sua vida a guiar indivíduos infelizes através de uma região pantanosa denominada A Zona (onde teria caído o tal meteoro), perigosa, instável, talvez mágica, talvez ligada a algum abismo cósmico.

Os que conseguem sobreviver, vencer as barreiras e armadilhas, chegam a um local denominado “o quarto”, onde se podem realizar desejos, desde que se tenha o necessário despojamento de espírito.

Mas, a cada vez, o guia (que não tem direito a usufruir do “quarto”) fracassa, pois os visitantes da Zona, mesmo depois de enfrentar o terrível “triturador de carne humana”, terminam por desistir da experiência quando a hora é chegada, negando-se a receber a graça merecida.

Perto do final da fita, a mulher do guia, ao recebê-lo de volta, exausto e infeliz, dirige-se ao público e diz que, apesar da vida de desgraças que teve ao lado dele, não se arrepende.

“É melhor uma felicidade amarga que uma vida apagada”, conclui, brindando o espectador com um daqueles paradoxos que Vinicius, saudades, e Gullar, homem do nosso tempo, cidadão feliz (e desestressado) de Copacabana, adorariam.

E no entanto são tão diferentes, entre si, os poetas.

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